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Contato

Clesio Saraiva dos Santos

In memoriam

Qualificações

  • 1966-1970 Graduação em Engenharia Civil
  • 1971-1972 Mestrado em Informática
  • 1976-1980 Doutorado em Informática

Áreas de Interesse

  • Versões em Bancos de Dados Orientados a Objetos

Minibiografia

Nascido em 29 de julho de 1946, em Butiá, RS, o Professor Clesio Saraiva dos Santos cursa seu ensino primário no Colégio Imaculado Coração de Maria e no Ginásio Butiá, que fazia parte da Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos (CENEC). A seguir, é aluno da primeira turma do então Curso Científico no Colégio Champagnat, em Porto Alegre. Em 1966, presta exame vestibular, sendo admitido em décimo-primeiro lugar para o Curso de Engenharia Civil da UFRGS. Entre os anos de 1966 e 1970, enquanto completa o curso de Engenharia Civil na universidade, já participa de atividades inovadoras e pioneiras na área de Ciência da Computação na UFRGS, lideradas à época pelo Professor Emérito Manoel Luiz Leão, fundador e primeiro diretor do Centro de Processamento de Dados. Em 1968, participa de uma das primeiras turmas do curso da linguagem de programação FORTRAN junto ao Centro de Processamento de Dados. Em 1º de Maio de 1968, Dia do Trabalho, é entrevistado pelo Professor Manoel Luiz Leão e inicia suas atividades como “programador-estagiário” no CPD, permanecendo nesta posição entre 1º de maio de 1968 e 31 de dezembro de 1970. Entre 1969 e 1970 também exerce a função de programador de computadores na empresa FLUXO, na área de projetos de estradas. Em 1969 ministra disciplina de FORTRAN para cursos da Escola de Engenharia, tendo como alunos ilustres professores como Walter Otto Cybis e José Serafim Gomes Franco.

Em 1º de janeiro de 1971 é admitido como “Professor Especialista” do CPD, e contam seus contemporâneos, Professores Otacílio José Carollo de Souza, Daltro José Nunes, Paulo Alberto de Azeredo e José Palazzo Moreira de Oliveira que já mostrava imensa capacidade técnica na incipiente atividade acadêmica de Ciência da Computação na UFRGS.

No mesmo ano de 1971, inicia mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, centro pioneiro de pós-graduação em Informática no país. Conclui o curso em apenas 18 meses, destacando-se entre os alunos, pois sua dissertação e pesquisa levam a resultados publicados internacionalmente. Obtém o título de Mestre em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 1972. Após concluir o mestrado, torna-se um dos professores orientadores do recém criado Curso de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFRGS (CPGCC), no ano de 1973, que incluía os professores da área de eletrônica e instrumentação do Instituto de Física e os professores da Escola de Engenharia que atuavam em programação de computadores.

Está entre os pioneiros do Curso de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFRGS, primeiro curso na área do Estado do Rio Grande do Sul: Celso Müller, Daltro José Nunes (primeiro coordenador do Curso de Pós-Graduação), Genaro Celiberto, Harvey N. Rutt, John D. Rogers, José L. Medero, José Mauro Volkmer de Castilho, Juergen Rochol, Luiz Fernando Ramos Centeno, Marcus G. Zwanziger, Newton Braga Rosa, Paulo Alberto de Azeredo, Philippe Olivier Alexandre Navaux, Sérgio M. Bordini e Wolfgang Pandikow. Já na criação do curso de pós-graduação, participa da primeira Comissão Coordenadora, que estabeleceu os princípios norteadores do curso que hoje é referência internacional na área de Computação.

Em 1973, participa da criação do curso de Tecnólogo em Processamento de Dados, primeiro curso de graduação na área de Computação na Universidade. Em 1974, juntamente com os Professores José Palazzo Moreira de Oliveira, Carlos Arthur Lang Lisbôa e Maria Lúcia Blanck Lisbôa, trabalha na construção do sistema de totalização da apuração das eleições parlamentares, trabalho pioneiro realizado junto ao CPD da UFRGS. Em 1974 participa da criação e organização do primeiro SEMISH – Seminário Integrado de Software e Hardware, no Curso de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFRGS, evento que hoje é o principal simpósio científico da Sociedade Brasileira de Computação. Este evento contou com participantes da Companhia Rio-Grandense de Telecomunicações e da Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul. De forma visionária, o professor Clesio já percebia a importância da integração entre cientistas, acadêmicos e profissionais dos setores público e privado. Em 1975 e 1976 participa da organização e consolidação do SEMISH.

Devido ao seu brilhante desempenho no mestrado, é convidado a cursar doutorado em Informática na PUC-Rio, então principal programa de pós-graduação em Informática do Brasil, sob orientação do internacionalmente renomado Professor Antônio Luz Furtado, um dos pioneiros da área no Brasil. Em 1976, vai para o Rio de Janeiro, junto com o colega Paulo Alberto de Azeredo, e inicia seu doutoramento. Conclui o doutorado com grande reconhecimento e brilhantismo, publicando trabalhos nas principais conferências de sua área de pesquisa e em periódicos indexados, algo raro no Brasil na década de 1980 na área de Computação. Em 1978, torna-se sócio fundador da Sociedade Brasileira de Computação, durante o 5º Seminário Integrado de Software e Hardware, no Rio de Janeiro, evento por ele criado em 1974 no CPGCC da UFRGS. Em 1979, publica o artigo central de sua tese na “International Conference on Conceptual Modelling (ER 1979)”, evento de grande prestígio científico. Aliás, neste ano de 2009, a conferência será organizada pela primeira vez no Brasil, sob responsabilidade do Instituto de Informática, sob a liderança do seu colega José Palazzo Moreira de Oliveira. Seus artigos foram citados por pesquisadores líderes, nos livros de maior visibilidade e mais utilizados em ensino de Sistemas de Informação e Bancos de Dados, notadamente no livro de C.J. Date, “Sistemas de Bancos de Dados”, é um dos raríssimos trabalhos de pesquisador brasileiro citado nesta obra, até hoje de referência em ensino e pesquisa em Computação. No grupo de pesquisa em que desenvolveu seu trabalho de doutorado, convive com pesquisadores líderes nas áreas de Sistemas de Informação e Bancos de Dados, como os Professores Marco Antonio Casanova, Carlos José Pereira de Lucena, Arndt von Staa, Roberto Tom Price, Erich J. Neuhold, Tom Maibaum, Ken Sevcik e o saudoso amigo José Mauro Volkmer de Castilho, que posteriormente seria Vice-Diretor do Instituto de Informática da UFRGS na gestão do Professor Clesio.

É Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da UFRGS em 1980 e chefe do Departamento de Informática da antiga Divisão Acadêmica do Centro de Processamento de Dados entre 1981 e 1984, antes da existência do Instituto de Informática, quando a Ciência da Computação iniciava sua expansão na Universidade. A seguir, é escolhido para o cargo de Diretor do Centro de Processamento de Dados da UFRGS, função exercida entre 1984 e 1988. Nesta época, é criado o vestibular em duas etapas na Universidade, o que leva à reformulação dos procedimentos no Centro de Processamento de Dados, tarefa concluída com grande sucesso e da qual participa diretamente como Diretor do CPD. Em 1987, o Professor Clesio torna-se o primeiro Professor Titular da área de Informática da UFRGS, à época no Departamento de Informática (a então Divisão Acadêmica do Centro de Processamento de Dados, precursora do Instituto de Informática).

Em 1989 participa diretamente da criação do Instituto de Informática, sendo eleito primeiro Diretor, tendo como Vice-Diretor o Professor José Mauro Volkmer de Castilho, cargo exercido entre os anos de 1990 e 1994. Teve de vencer resistências internas em relação à mudança para o Campus do Vale. Durante sua gestão investe na melhoria de infraestrutura: o Instituto passa a contar com área de 2500 metros quadrados no Campus do Vale, contrastando com os 400 metros quadrados ocupados nos fundos do Prédio Novo da Escola de Engenharia e no prédio do Departamento de Engenharia Elétrica. Destaca o Professor Clesio, em comunicação pessoal, o apoio decisivo do Reitor e Professor Emérito Tuiskon Dick, entre os anos de 1991 e 1992, na ocasião da mudança do Instituto de Informática para o Campus do Vale.

É membro da Comissão Coordenadora do CPGCC/UFRGS de 1973 a 1976, de 1980 a 1987 e em 1996. É membro da comissão que elaborou o projeto do Curso de Bacharelado em Ciência da Computação da UFRGS, em 1983, curso que desde a década de 1980 atinge as melhores avaliações, tanto do MEC como por parte da sociedade. É membro do Colegiado do Departamento de Informática da UFRGS, entre 1987 e 1989. Após sua gestão como primeiro Diretor do Instituto de Informática, é membro do Conselho Departamental entre 1994 e 1996 e membro do Conselho do Instituto de Informática da UFRGS entre 1996 e 1998. Aposenta-se em 2002, mas até hoje participa ativamente de atividades de pesquisa no Instituto de Informática e como conselheiro intelectual de todos os colegas, que por ele tem imensos respeito e admiração.

Sempre trabalhou ativamente pela defesa dos investimentos em Ciência e Tecnologia. Mostra, em 1990, em reportagem e entrevista publicadas no Jornal do Comércio, que a indústria de Informática gaúcha gerava, por ano, 33 milhões de dólares em ICMS (em valores de 1989), valor significativo e superior aos 30 milhões de dólares investidos, na UFRGS, na área de Computação, nos 17 anos entre 1973 e1990, valores que incluíam salários, equipamentos, ensino e pesquisa.

Contribui decisivamente para o desenvolvimento da Informática no Rio Grande do Sul, delineando planos iniciais de criação de uma incubadora tecnológica de Informática na UFRGS, que seria inaugurada pioneiramente no Instituto de Informática em 1996, já na gestão do Professor Roberto Tom Price como Diretor. Em 1993, participa, como Diretor do Instituto de Informática, dos debates e deliberações sobre a criação de um programa nacional na área de Software, embrião do Programa Brasileiro de Exportação de Software – SOFTEX. Em 1993, na criação dos núcleos do SOFTEX, é criado um núcleo gaúcho, que em 1994 seria estabelecido no Instituto de Informática da UFRGS, a SOFTSUL (Associação Sul-Riograndense de Apoio ao Desenvolvimento de Software).

É Presidente da estatuinte universitária, que redige o novo Estatuto da UFRGS, durante a década de 1990. Este novo Estatuto, de caráter democrático, fortaleceu e valorizou o papel do Conselho Universitário, das representações e das instâncias acadêmicas; permitiu maior participação de servidores técnico-administrativos e estudantes nos órgãos superiores e valorizou significativamente as atividades de extensão e de pesquisa, ao criar as respectivas comissões nas unidades da UFRGS. Em 1992, concorre em uma chapa inscrita à Reitoria da Universidade, eleição então vencida pelo Professor Hélgio Trindade.

Foi professor de diversas disciplinas da graduação e pós-graduação na UFRGS, a partir de 1968, quando era estagiário no CPD. Na graduação foi notável professor, sendo que sua competência didática o levou a escrever o livro de maior sucesso editorial, de maior reconhecimento acadêmico e mais utilizado nas universidades brasileiras, na disciplina de “Estruturas de Dados”. Este livro foi publicado com os colegas Paulo Alberto de Azeredo da UFRGS, Paulo Veloso e Antônio Furtado, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Ao todo, publicou quatro livros nas áreas de Bancos de Dados e Classificação e Pesquisa de Dados. Ministrou disciplinas de FORTRAN, ALGOL, Estruturas de Dados, Técnicas de Programação e Bancos de Dados.

Foi criador do grupo de Sistemas de Informação do Instituto de Informática, cadastrado no CNPq. Este grupo contou inicialmente com os colegas José Mauro Volkmer de Castilho, Paulo Alberto de Azeredo, José Palazzo Moreira de Oliveira, Carlos Alberto Heuser, Lia Goldstein Golendziner, Roberto Tom Price, Ana Maria de Alencar Price e Cirano Iochpe, crescendo significativamente nas duas últimas décadas. Este grupo hoje conta com 12 professores ativos, além de colaboradores aposentados (grupo que inclui o próprio Professor Clesio, que ainda orienta alunos de pós-graduação), e é um dos grupos líderes nesta área de pesquisa na América Latina e internacionalmente referenciado e reconhecido. Foi também pesquisador nível I do CNPq, um dos primeiros a atingir este nível e distinção na área de Ciência da Computação na Região Sul do Brasil. Também contribuiu com colegas do Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFRGS, ao desenvolver um interpretador para a linguagem LORANE, durante muitos anos utilizada em análise estrutural. Sua produção científica, durante toda sua carreira acadêmica, foi notável. Mesmo durante os longos períodos em que exerceu cargos de Direção na UFRGS e em sociedades científicas, jamais abandonou a atividade de pesquisa. Já durante seu mestrado, sua dissertação resultou em publicações internacionais, em uma época em que a Computação nacional contava com menos de duas dezenas de doutores e menos de uma centena de pesquisadores.

Orientou dezenas de alunos de mestrado e doutorado, sendo que diversos deles são hoje professores das principais universidades do Brasil e do mundo, alguns deles ocupando cargos corporativos de alto nível nas principais empresas de Software e Computação, como Google e IBM.

Suas atividades de extensão, sempre integradas às atividades de ensino e pesquisa, tiveram notável destaque regional e nacional. Exerceu papel decisivo na criação de importantes eventos acadêmicos, como o Seminário Integrado de Software e Hardware, organizado anualmente pela Sociedade Brasileira de Computação. Além disso, participou da criação do principal simpósio brasileiro científico na área de Bancos de Dados. Também colaborou ativamente pelo desenvolvimento da Computação na América Latina, participando da organização do Congresso Latino-Americano de Informática em Porto Alegre, em 1985.

Sua contribuição à construção de uma comunidade de pesquisa em Ciência da Computação no Brasil foi decisiva e fundamental. Além de sócio fundador, foi Conselheiro da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) em três períodos: 1981-1985, 1987-1989 e 1991-1995. Foi membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Computação (1981-1983), Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Computação (1985-1986) e o primeiro gaúcho a presidir esta sociedade, no período de 1989 a 1991. Junto ao MEC, foi Membro da Comissão de Consultores de Informática da CAPES em dois períodos: 1980-1982 e 1985-1987. Entre 1980 e 1982 participa na CAPES da primeira comissão de consultores de Informática, que criou o primeiro sistema de avaliação da área de Ciência da Computação, junto aos professores José Carlos Pereira de Lucena, Jayme Luiz Szwarcfiter e Ivan Moura Campos. Foi membro do Comitê Assessor de Ciência da Computação do CNPq, entre 1983 e 1984. Foi membro da Comissão de Informática da SESu/MEC, em 1985. Foi membro da Comissão de Especialistas em Informática do MEC, entre 1986 e 1988. Participou ativamente do processo de avaliação da pós-graduação em Computação no Brasil como Presidente de área de Informática da CAPES, entre 1989 e 1990.

Suas atividades não acadêmicas incluem a dedicação ao Conselho Deliberativo do Sport Club Internacional, clube que segue com muita dedicação desde a sua infância. Participou, também, da gestão do clube, como diretor de futebol e colaborador da direção do International entre os anos de 2002 e 2006. Grande amante de esportes, praticava tênis semanalmente com seus colegas do Instituto de Informática, notadamente os Professores Simão Toscani, Paulo Alberto de Azeredo, Tadeu Corso e José Carlos Ferraz Hennemann, da Escola de Engenharia e ex-Reitor desta Universidade.

O pioneirismo e a liderança acadêmica do Professor Clesio Saraiva dos Santos expressam-se nessas suas múltiplas atividades acadêmicas de ensino, pesquisa, extensão e administração na UFRGS e na comunidade científica nacional de Computação.

Sua imensa capacidade agregadora, notável inteligência, capacidade de trabalho em grupo, didática diferenciada, capacidade de motivar alunos, colegas e servidores técnico-administrativos, sua liderança nacional em pesquisa, em uma época em que a Computação no Brasil dava seus primeiros passos, são predicados de um professor e pesquisador de notável caráter, ética e capacidade, que sempre colocou a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Instituto de Informática à frente de seus objetivos, desejos e vontades pessoais.

Falecimento: 20 de maio de 2009